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domingo, 24 de maio de 2015

ESVAZIAMENTO EM MASSA


O Google desenvolve um novo algoritmo que pretende traduzir pensamentos em sequências de números, para funcionarem como “vetores de pensamento”. O plano é transformar os softwares atuais em versões sofisticadas capazes de agir e interagir como humanos. O “vetor de pensamento” será capaz de romper duas grandes barreiras no campo da inteligência artificial: alcançar a linguagem natural, para conversas, e a habilidade de usar a lógica. As pessoas poderão conversar com seus computadores, e as máquinas também vão dialogar entre elas. Toda esta promessa é do cientista Geoff Hinton ao jornal britânico The Guardian.

Estamos preparados para tal realidade que será inevitável? Provavelmente, sim, porque o ser humano tem incomparável capacidade de adaptação - tanto às situações favoráveis quanto àquelas de dificuldade. A grande maioria dos brasileiros se inclui neste segundo caso. No entanto, tem um probleminha agravante. Por aqui, temos o mal costume de ser coniventes com muitos erros. Demoramos a tomar decisões corretas. Pior ainda, persistimos nos equívocos, agindo conforme conceitos errados que nos levam a conclusões imbecis e consequências erráticas - quando não trágicas. Enfim, parece que uma imbecilidade nada artificial domina o Brasil.

Exemplos abundam. Organizadores garantem que havia mais de 10 mil pessoas no sábado, 23 de maio, na 8ª edição da Marcha da Maconha, da Avenida Paulista até o Largo de São Francisco, no prédio da Secretaria de Segurança Pública. A Polícia Militar, que foi "desconvidada" ao evento, acompanhou de frente e por trás por trás. A PM avaliou que havia 4 mil manifestantes. Inegavelmente com milhares de pessoas, o evento começou às 16h20min - já que o número 420 é um símbolo reconhecido internacionalmente como ligado à maconha.

Os manifestantes distribuíram flores. A justificativa era: se “opor à violência policial". Muitos vestiam chapéus de papelão com o formato de uma folha de “cannabis”. Cartazes destacavam algumas frases: “da proibição nasce o tráfico”, “basta de guerra: por outra política de drogas” e “Ei, polícia, maconha é uma delícia”. Alguns fumaram maconha... Questão de coerência entre o discurso e a prática... O ato terminou por volta das 19 horas. Interessante é quanta gente consegue se unir na defesa da maconha. Não só para descriminalizar seu uso, mas, efetivamente, para defender o direito de usá-la.

Intelectuais compareceram para justificar a marcha. A antropóloga Sandra Goulart foi direta na explicação: "A população está pedindo democraticamente a mudança da política contra as drogas. A repressão não resolveu eventuais usos abusivos. Pelo contrário, surgiram problemas de saúde, porque o usuário é marginalizado, e de criminalidade, ligado ao tráfico". O professor de História da Universidade de São Paulo (USP) Henrique Carneiro, deu uma aula pública no ato, onde ensinou: "Essa marcha defende um direito muito maior do que o de uma parcela da população fumar um cigarro que faz menos mal que o tabaco. Ela defende o direito de cada um governar a si mesmo, de escolher o que quer ou não fazer, contra uma imposição de abstinência compulsória pelo Estado".


Havia mais gente na Marcha da Maconha que no segundo dia do 5º Congresso Estadual do PT. O assessor especial da Presidência da República para Assuntos Internacionais, Marco Aurélio Garcia, não aguentou o ambiente semi-desértico e extravasou: "Como fundador e alguém que militou 35 anos no partido, nunca vi uma reunião do PT tão vazia como essa. Vazia ontem (sexta-feira), quando se anunciava que Lula viria. Esvaziada hoje (sábado), quando no passado se disputava um crachá. Isso é um sintoma grave de uma crise que nos atinge de forma objetiva e subjetiva".

MAG reclamou das diferentes tendências do PT, lamuriando que atualmente elas atendem mais a interesses pessoais do que a discussão de ideias. MAG também constatou que muitos militantes não se sentem mais representados pelo PT. Insistindo na tese de que os mais perigosos críticos do partido vêm das classes que migraram socialmente, MAG fez uma leitura conjuntural inesperada: "Isso significa que perdemos a batalha política. Significa que não conseguimos ganhar politicamente aqueles que foram os grandes beneficiários das nossas políticas de inclusão social. Isso é sim responsabilidade do governo, mas é muito mais uma responsabilidade do nosso partido".

MAG reclamou que o PT não entendeu "o fenômeno social". Ou seja, não soube entender as demandas das classes que foram favorecidas pelas medidas de inclusão social tomadas em 12 anos de governo do PT. MAG decretou que a reeleição da presidente Dilma Rousseff encerrou esse ciclo de 12 anos, esgotado. Na avaliação dele, um ideólogo petista e do Foro de São Paulo, para avançar, será preciso desenhar um novo modelo político econômico e reconhecer que as críticas não são isoladas. Sobre a conjuntura econômica atual, MAG foi bem claro na urgência de soluções: "É preciso propor, de imediato, que essas correções fiscais possam efetivamente permitir que, em poucos meses, esse problema esteja resolvido. E então aplicar políticas que vão garantir ao segundo governo Dilma uma transformação muito importante".


Sem ter ouvido as lamúrias de MAG, o emérito defensor público da discriminalização da maconha, o ex-Presidente Fernando Henrique Cardoso, aproveitou uma palestra dada a 200 estudantes em Brasília, para meter o pau no corte de R$ 69,9 bilhões feito pela Presidenta Dilma Rousseff, quase repetindo a tese da liderança petista ao relacionar os problemas políticos com os econômicos, e indicando que o PT cometeu mais erros de estratégia e de clientelismo do que da corrupção:

"O Brasil foi tão mal governado nos últimos anos que o corte é consequência disso. A situação fiscal é de tal maneira difícil, e foi consequência de erros dos governos, que agora, com esse corte, o governo está pagando seus próprios pecados e vai ter que tomar medidas de contenção, como está tomando. A crítica que posso fazer não é à contenção, é que é uma espécie de operação sem anestesia. Quando você faz uma contenção fiscal tem de explicar ao país o que vem depois, para que você faz, qual é a esperança, qual é o horizonte. Agora só estamos vendo nuvem negra. Aí as pessoas ficam irritadas e não aceitam".

Fugindo sempre da tese de "Impeachment" (alegando que "faltam provas cabais), FHC admitiu a possibilidade de prosperar uma ação por crime comum contra Dilma Rousseff em razão das chamadas "pedaladas fiscais" feitas para equilibrar a contas do governo. FHC não perdoou a maior fraqueza de Dilma: “Para fazer qualquer coisa precisa de liderança. E ninguém faz nada sem liderança. Quando o presidente não lidera no sistema presidencialista, o Congresso lidera".

FHC pregou um caminho tático de "mobilização nacional para a superação da atual crise". Aplaudido, levou a platéia às gargalhadas ao esclarecer que sua proposta não significava uma "adesão ao governo Dilma". Cético como todo bom intelectual orgânico, FHC destilou seu pessimismo teórico: “Não está claro pra mim se vamos realmente pegar o caminho certo. Estou sentindo falta de liderança, falta determinação e tem que fazer alguma convergência. Estou falando de convergência nacional. Não pode ficar cada um do seu lado”.

No Brasil, inegavelmente, um segmento não banca o imbecil. Os banqueiros já arrumaram um jeitinho brasileiro para não perderem seus ganhos recordes, daqui a 90 dias, quando terão de pagar 20% de alíquota da Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL). O Globo informa que, "para amenizar essa despesa e manter a rentabilidade em alta, os bancos devem fazer alguns malabarismos em uma engenharia financeira que inclui planejamento tributário, busca por maior eficiência e aumento de tarifas e juros". Traduzindo o economês: nós, os cidadãos otários, vamos pagar mais uma continha do levyano arrocho fiscal...

Se o Brasil segue no ignorante caminho do rentismo, pelo menos o Papa Francisco nos dá um consolo. O jornal argentino La Nacion informa que o "hermano" Francisco impediu a criação de um fundo de inversão que o francês Jean-Baptiste de Franssu, presidente do IOR (Instituto para as Obras da Religião, popularmente conhecido como "Banco do Vaticano"), queria criar no paraíso fiscal de Luxemburgo. Os argentinos destacaram que, desde o início de seu pontificado, Francisco deixou claro que queria que o IOR não se comportasse como um "banco de negócios", mas sim como uma instituição para servir às obras religiosas e sociais da Igreja Católica em todo o mundo.

Conclusão: Se a Dilma deseja um milagre econômico - também sonhado pelo MAG e desprezado pelo cético FHC -, nossa presidenta devia propor a troca do Joaquim Levy pelo Papa Francisco no Ministério da Fazenda...
Pena que o Papa, inimigo declarado do rentismo, não esteja disponível para este emprego no Brasil da Ignorância Artificial...

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